PC Palabra Clave (La Plata), abril - septiembre 2025, vol. 14, núm. 2, e247. ISSN 1853-9912
Universidad Nacional de La Plata
Facultad de Humanidades y Ciencias de la Educación
Departamento de Bibliotecología

Artículos de temática libre

Competência midiática e informacional como ferramenta crítica na ciência da informação: estudo da desinformação e pós-verdade na série Black Mirror

Rodrigo da Silva Almeida

Universidade Federal do Pará, Brasil
Eddie Carlos Saraiva da Silva

Universidade Federal do Pará / Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável, Brasil
Djuli Machado de Lucca

Departamento de Ciência da Informação da Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil
Danielly Oliveira Inomata

Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade Federal do Pará, Brasil
Cita sugerida: Almeida, R. S., Silva, E. C. S., Lucca, D. M. y Inomata, D. O. (2025). Competência midiática e informacional como ferramenta crítica na ciência da informação: estudo da desinformação e pós-verdade na série Black Mirror. Palabra Clave (La Plata), 14(2), e247. https://doi.org/10.24215/18539912e247

Resumo: A associação entre a indústria da desinformação e os efeitos sociais relacionados à plataformização - além de outros fenômenos em voga, como a pós-verdade - resulta em um obstáculo à autonomia informacional das pessoas. Nesse aspecto, o estudo tem como objetivo identificar elementos associados ao contexto informacional atual e sua relação com a Competência Midiática e Informacional (do inglês Media and Information Literacy - MIL) representados na série fílmica Black Mirror. São elementos de investigação os fenômenos da desinformação e pós-verdade e suas motivações e interesses subjacentes, e suas relações com as dimensões da MIL. A pesquisa é classificada como bibliográfica e documental, na ocasião em que os dados são oriundos da literatura científica e de trechos dos episódios da série investigada. Para análise dos dados coletados optou-se pela análise de conteúdo de cenas específicas de episódios específicos, que foram selecionados a partir da sua aderência ao tema da proposta investigada, cujos critérios são derivados das dimensões de MIL idealizadas por Ferrés e Piscitelli (2015). O estudo possibilitou aprimorar a compreensão sobre a forma como as tecnologias de informação e comunicação podem moldar a percepção da realidade, influenciar as emoções, opiniões e comportamentos. Também revela como informações falsas e distorcidas podem ser usadas para manipular a opinião pública, comprometer a democracia e a privacidade individual. Por fim, evidencia que as habilidades em MIL são essenciais para os indivíduos da América Latina e do Caribe na era contemporânea.

Palavras-chave: Competência midiática, Competência informacional, Desinformação, Pós-verdade, Black Mirror.

Media and information literacy as a critical tool in library and information science: study of disinformation and post-truth in the Black Mirror series

Abstract: The association between the disinformation industry and the social effects related to platformization - in addition to other trending phenomena, such as post-truth - results in an obstacle to people's informational autonomy. In this aspect, the study aims to identify elements associated with the current informational context and its relationship with Media and Information Literacy (MIL) represented in the film series Black Mirror. The elements of investigation are the phenomena of disinformation and post-truth and their underlying motivations and interests, and their relationships with the MIL dimensions. The research is classified as bibliographic and documentary, as the data comes from scientific literature, and excerpts from episodes of a film series are investigated. To analyze the collected data, we opted for content analysis of specific scenes from specific episodes of the series, which were selected based on their adherence to the theme of the investigated proposal, whose criteria are derived from the MIL dimensions idealized by Ferrés and Piscitelli (2015). The study made it possible to improve understanding of how information and communication technologies can shape the perception of reality, influence emotions, opinions and behaviors. It also reveals how false and distorted information can be used to manipulate public opinion, compromise democracy and individual privacy. Finally, it shows that MIL skills are essential for individuals in Latin America and the Caribbean in the contemporary era.

Keywords: Media and information literacy, Disinformation, Post-truth, Black Mirror.

Alfabetización mediática e informativa como herramienta crítica en ciencias de la información: estudio de la desinformación y la posverdad en la serie Black Mirror

Resumen: La asociación entre la industria de la desinformación y los efectos sociales relacionados con la plataformización -además de otros fenómenos en boga, como la posverdad- se traduce en un obstáculo para la autonomía informativa de las personas. En este sentido, el estudio pretende identificar elementos asociados al contexto informativo actual y su relación con la Alfabetización Mediática e Informacional (AMI) representada en la serie cinematográfica Black Mirror. Los elementos de investigación son los fenómenos de desinformación y posverdad y sus motivaciones e intereses subyacentes, y su relación con las dimensiones de la AMI. La investigación se clasifica como bibliográfica y documental, ya que los datos son extraídos de la literatura científica y de extractos de episodios de la serie investigada. Para analizar los datos recogidos, se optó por el análisis de contenido de escenas específicas de episodios concretos, que fueron seleccionados en función de su adhesión a la temática de la propuesta investigada, cuyos criterios se derivan de las dimensiones de la AMI idealizadas por Ferrés y Piscitelli (2015). El estudio ha permitido comprender mejor cómo las tecnologías de la información y la comunicación pueden modelar la percepción de la realidad, influir en las emociones, las opiniones y los comportamientos. También revela cómo la información falsa y distorsionada puede utilizarse para manipular la opinión pública, poner en peligro la democracia y la privacidad individual. Por último, muestra que las competencias en AMI son esenciales para los individuos de América Latina y el Caribe en la era contemporánea.

Palabras clave: Alfabetización mediática, Alfabetización informativa, Desinformación, Posverdad, Black Mirror.

1. Introdução

O contexto informacional contemporâneo tem se mostrado, nos últimos anos, especialmente desafiador no que diz respeito à construção de experiências informacionais bem-sucedidas das pessoas. O fenômeno da pós-verdade, caracterizado pela centralidade do apelo emocional e das crenças pessoais para a formação da opinião em detrimento aos fatos objetivos, é potencializado pela circulação massiva de fake news e pela indústria da desinformação, que opera para manipular a opinião pública (D’Ancona, 2018) em direção ao atingimento de objetivos específicos de grupos sociais particulares.

No mesmo sentido e no contexto da cultura digital, temos observado os efeitos sociais de um fenômeno social agora denominado plataformização, que diz respeito à penetração das plataformas, que são infraestruturas digitais (re)programáveis que facilitam e moldam interações personalizadas entre as pessoas que as utilizam, organizadas por meio de coleta sistemática de dados, processamento algorítmico, monetização e circulação de dados (Poell, Nieborg & Van Dijck, 2019). Organizado por meio de plataformas, o ambiente das redes se torna um espaço privado e as interações das pessoas (usuários) no sistema estão sujeitas e orientadas aos interesses e intenções desses grupos privados, independentemente da vontade e até da ciência dos usuários. Os mecanismos da plataformização já são apresentados na literatura como aparatos de desestabilização das estruturas que organizam o ambiente político, científico, legal e midiático. Ao servirem como potencializadores de processos antiestruturais -radicalização política, teorias da conspiração - operam em favor de crises de confiança na democracia, na ciência e na mídia profissional (Cesarino, 2022).

A associação entre a indústria da desinformação e os efeitos sociais relacionados à plataformização - além de outros fenômenos em voga - resulta em um obstáculo à autonomia informacional das pessoas. Nas áreas de comunicação e ciência da Informação, os estudos sobre a competência midiática e informacional - do inglês media and information literacy (MIL) - buscam explorar os processos e as ferramentas informacionais que as pessoas podem usufruir de modo crítico e reflexivo, de modo que a informação seja um elemento favorável à construção de uma vida com qualidade, prosperidade, paz e justiça social (Singh, Kerr & Hamburguer, 2016).

Estudos sobre a temática relacionam essas capacidades ao contexto informacional e midiático atual, e indicam que podem ser úteis em ocasiões em que a polarização, o discurso de ódio, a radicalização e o extremismo crescem. Assim, a MIL é uma ferramenta para “superar a desinformação, os estereótipos e a intolerância que podem ser veiculados por meio de comunicação e em espaços online” (La Rue, 2016, p. 8).

Dentre os artefatos culturais que expressam as realidades percebidas e interpretadas pelas pessoas em determinados períodos da trajetória da humanidade, está o cinema. Os filmes - objetos culturais de expressão que representam realidades sócio-históricas particulares - ao representarem aspectos da sociedade percebidos pelas pessoas em cada recorte de tempo e espaço específicos, podem refletir a realidade das pessoas e suas interações com os fenômenos em voga (Barros, 2007).

Um desses objetos culturais é Black Mirror, uma série fílmica britânica, que se situa no gênero de ficção científica, tendo as abordagens centradas em “temas obscuros e satíricos que examinam a sociedade moderna, particularmente a respeito das consequências imprevistas das novas tecnologias”, conforme a Wikipedia (Black Mirror, 2024).

A investigação de fenômenos retratados em séries fílmicas não é inédita na literatura científica. A série Black Mirror, especificamente, já foi objeto de investigação científica em estudos que exploraram, por exemplo, o imaginário social da democracia (Cingüela Sola & Martínez-Lucena, 2014); os impactos da tecnologia e meios de comunicação atuais na sociedade (Gandasegui Correo, 2014) e o consumo de mídia (Elnahla, 2019). Não foi identificado na literatura estudo que observa a série a partir dos fenômenos informacionais contemporâneos e MIL.

Enquanto a realidade fictícia de Black Mirror geralmente retrata sociedades desenvolvidas com amplo acesso à tecnologia, contraditório a isso, a nossa realidade reflete sociedades ora desenvolvidas, ora subdesenvolvidas. Por exemplo, a realidade latino-americana é marcada por profundas desigualdades no acesso e uso de tecnologias digitais. Alguns desses desafios incluem a invisibilidade nos meios de comunicação, a homogeneização desses grupos em discursos públicos, a falta de representatividade precisa e a dificuldade de acesso e inclusão digital para imigrantes latino-americanos em contextos diaspóricos (Retis, 2021).

A riqueza da diversidade étnica e cultural na América Latina é um fator crucial a ser ponderado ao analisar os efeitos da tecnologia e da mídia. Essa variedade de experiências e perspectivas molda de forma significativa como as pessoas da região interagem com as novas tecnologias e consomem conteúdo midiático, gerando assim preocupações específicas sobre vigilância, controle social e manipulação política por meio de tecnologias para esses povos.

O presente artigo tem como objetivo identificar elementos associados ao contexto informacional atual e sua relação com MIL representados na série Black Mirror. São elementos de investigação os fenômenos da desinformação e pós-verdade e suas motivações e interesses subjacentes, e suas relações com as dimensões da MIL. A partir deles, é possível compreender como a série aborda esses temas complexos enquanto fenômenos que refletem a realidade informacional contemporânea que é experienciada pelas pessoas. Além disso, a investigação busca associar MIL e o pensamento crítico nesse contexto, além da reflexão sobre implicações sociais e éticas dessas temáticas em nossa sociedade e como podemos utilizar a MIL para interpretar criticamente as mensagens apresentadas. Isso é capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma perspectiva crítica e informada sobre a informação e a mídia, capacitando os indivíduos a se tornarem consumidores de informações mais conscientes e engajados em um mundo digital cada vez mais complexo.

2. Media and information literacy aplicada ao contexto informacional e midiático contemporâneo

Economia da atenção, capitalismo de vigilância e sociedade da plataforma são só algumas das teorias associadas à cultura digital que refletem a tentativa dos teóricos de mapear fenômenos da sociedade atual sob alguns prismas específicos. Resguardadas as especificidades, partem de um mesmo princípio: a internet é, mais do que um aparato tecnológico, uma instituição sociocultural de comunicação. E, com o advento das plataformas digitais - representadas por um número restrito de organizações privadas, as big techs - a internet vêm se tornando um ambiente privado, em que as pessoas, ao produzirem conteúdos, o alimentam com dados sobre elas próprias e que, posteriormente, são utilizados não só para publicidade direcionada via algoritmos e softwares, mas também para manipulação da sociedade para alcance de objetivos de grupos sociais particulares.

Nesta seção, a intenção é contextualizar de forma abrangente os fenômenos que interferem diretamente nas experiências informacionais das pessoas, sejam eles tecnológicos ou sociais, e relacioná-los à MIL. Ao considerarmos que as experiências informacionais das pessoas são mediadas via redes, podemos nesta ocasião partir de dois grandes fenômenos: a plataformização e a pós-verdade.

2.1 Os desafios da cultura digital: plataformização, pós-verdade e desinformação

A cultura digital é associada, na literatura, como o momento particular da humanidade em que o uso de meios digitais de informação e comunicação se expandiu e hoje é utilizada por pessoas para todos os tipos de interação, comunicação, compartilhamento e ação (Cultura Digital, 2018). Plataformização, pós-verdade e desinformação são fenômenos associados -e, senão decorrentes- da cultura digital que são explorados nesta subseção.

O conceito de plataformização está atrelado aos efeitos sociais, políticos e culturais do uso das plataformas. Uma plataforma é um ambiente online que se vale de tecnologias automatizadas e modelos de negócio para organizar fluxos de dados, interações econômicas e trocas sociais entre usuários da internet (Poell, Nieborg & Van Dijck, 2019). Trata-se de um conjunto de big techs, organizações dominantes da área de tecnologia - que estão dentre as empresas mais valiosas do mercado - que medeiam as atividades das pessoas online. Dentre elas, estão aquelas reconhecidas pelo acrônimo GAFAM: Google, Apple, Facebook, Amazon e Microsoft.

Tais organizações, que prometem servir como uma ferramenta que dispensa intermediação nos negócios e nas interações, estão presentes nas áreas de comunicação, informação, locomoção, compras e hospedagem, e hoje são responsáveis por transformar setores econômicos e esferas da vida, incluindo o jornalismo, o transporte, o entretenimento, a educação, as finanças e a saúde (Van Dijck, Poell & De Waal, 2018).

Segundo apontam Van Dijck, Poell & De Waal (2018), são grandes características da operação das plataformas: foco no conteúdo gerado pelo usuário, a coleta de dados de comportamento e, majoritariamente, a veiculação de publicidade. Além disso, há a interoperabilidade e compartilhamento de dados e recursos computacionais através de interfaces programáveis (APIs) acessíveis por software. Essas características designam os três elementos fundamentais e indissociáveis das plataformas: tecnologia, modelos de negócios e interações entre usuários.

A partir das implicações sociais das plataformas discutidas por Mintz (2019); Van Dijck, Poell & De Waal (2018); Poell, Nieborg & Van Dijck (2019) e Cesarino (2022), podemos enumerar algumas implicações das plataformas às experiências informacionais das pessoas:

  1. 1. Trata-se de um ambiente privado, que, de fato, intermedeia relações e atividades das pessoas online, a partir de mecanismos de operacionalização (protocolos e algoritmos) que não são neutros e não estão claros aos usuários (Van Dijck, Poell & De Waal, 2018);

  2. 2. Um dos mecanismos das plataformas diz respeito à ‘dataficação’, que se refere não somente à coleta de dados demográficos, ou de dados de pesquisas online, mas principalmente a metadados comportamentais - coletados a partir de aplicativos, plugins, rastreadores e sensores - permite que os empresários transformem praticamente todas as instâncias de interação humana em dados: ranqueamento, pagamento, pesquisa, assistir conteúdos, dirigir, caminhar, conversas, amizades, namoro, etc. Essas coletas não são claras aos usuários de aplicativos;

  3. 3. Dados demográficos e comportamentais coletados dos usuários são processados algoritmicamente e, às vezes, sob condições rigorosas, disponibilizados aleatoriamente para uma ampla variedade de atores externos que utilizam tais dados para a comercialização de produtos e serviços usados nas rotinas e práticas cotidianas (Poell, Nieborg & Van Dijck, 2019). Os usuários não estão cientes acerca de quais empresas recebem os dados, e quais são os dados compartilhados com atores externos;

  4. 4. Embora os conteúdos das plataformas possam ser criados por outros usuários finais, a distribuição desses conteúdos é também realizada via algoritmos, que podem ampliar ou minimizar o acesso de outros usuários a esses itens. Conteúdos impulsionados a partir de pagamento às plataformas - o chamado tráfego pago - são mostrados com mais frequência aos usuários. Isso pode não estar claro aos usuários.

Informações úteis às pessoas para seus processos de construção de conhecimento que são circuladas online também podem estar sujeitas aos mecanismos das plataformas, que carecem de regulamentação do poder público. Informação e desinformação circulam juntas, e podem ser entregues às pessoas como conteúdos equivalentes.

A propagação da pós-verdade é agravada pelo mundo digital, onde não há regulamentos nas plataformas online, o que permite que informações e desinformações circulem livremente, muitas vezes sem distinção clara entre elas. A facilidade com que as pessoas podem acessar e compartilhar conteúdo e a tendência de buscar informações que respaldam seus sentimentos e crenças criam um terreno fértil para a disseminação de narrativas que ignoram os fatos objetivos. A cultura da pós-verdade é alimentada por filtros ineficazes e algoritmos que priorizam o engajamento sobre a precisão, o que leva a discursos emocionalmente apelativos em detrimento da veracidade dos fatos.

Pós-verdade é, conforme a Wikipédia, um “neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais” (Pós-Verdade, 2024). O verbete foi eleito em 2016 como a palavra do ano pelo dicionário britânico Oxford, quando descreveram seu conceito "[...] relativo a ou denotando circunstâncias em que os factos objectivos são menos influentes na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e à crença pessoal” (Oxford Languages, [2016]). Em outras palavras, é uma situação na qual as pessoas tendem a aceitar informações e narrativas que reforçam suas próprias crenças e emoções, mesmo que essas informações não sejam respaldadas por evidências concretas.

Nesse contexto, a emoção pode superar a lógica dos fatos na persuasão, gerando polarização na sociedade, com pessoas se apegando a narrativas emocionais que sustentam suas crenças, mesmo quando em conflito com a realidade. A pós-verdade pode estar presente em diversos contextos como: política, mídia, discurso público etc. sendo impulsionada pelas redes sociais digitais, onde a distinção entre fatos verdadeiros e enganosos se torna desafiadora.

Ripoll (2019) argumenta que a busca por uma informação mais "pura" e "verdadeira" é afetada pelas crenças e emoções individuais, levando muitas vezes à aceitação de narrativas baseadas em discursos de pós-verdade. Neste sentido, a desinformação na era digital pode levar a distorções da realidade, polarização social, manipulação política, danos à saúde pública e à reputação, além de dificultar a tomada de decisões informadas e afetar a credibilidade das fontes de informação. Combater esse problema exige esforços em educação, pensamento crítico, verificação de fatos e responsabilidade nas plataformas digitais. Principalmente, quando relacionamos essa questão com a internet, pois a rápida disseminação de informações através das redes sociais digitais, e consequentemente com o uso da internet torna esse problema ainda mais desafiador, pois as informações falsas podem se espalhar facilmente, alcançando um grande número de pessoas antes mesmo de serem desmentidas.

Diante disso, a desinformação e a pós-verdade podem representar obstáculos significativos para o desenvolvimento da MIL. Para enfrentar esses desafios, é essencial educar as pessoas sobre como identificar e combater a desinformação, fortalecendo sua capacidade de discernir informações precisas e confiáveis.

2.2 Media and Information Literacy (MIL): conceito e dimensões

É predominantemente no espaço das redes e no contexto da cultura digital que a MIL se desenrola no período atual. As pesquisas científicas e práticas profissionais envolvendo MIL são desenvolvidas especialmente nas áreas da comunicação e da Ciência da Informação. Partem do pressuposto de que em todos os espaços da atividade humana a criação e aplicação de novos conhecimentos e a comunicação desses conhecimentos para outras pessoas têm sido central para a evolução da humanidade, e isso perpassa pela capacidades que as pessoas desenvolvem de como fazer as coisas, como se comunicar e como trabalhar com outras pessoas (Moeller, Joseph, Lau & Carbo, 2011). E essas capacidades, descritas como “a mais preciosa riqueza que os seres humanos possuem” (Moeller et al., 2011), são estimuladas a partir de iniciativas em MIL.

Media and Information Literacy é um conceito que integra media literacy (letramento midiático, para o português), que é desenvolvido no campo da comunicação, e information literacy (competência em informação, para o português) - desenvolvido no campo da Ciência da Informação. Segundo Moeller et al. (2011), trata-se de conceitos que sempre estiveram associados, mas a interligação esteve mais evidente a partir da popularização das redes, cujos processos de comunicação e informação das pessoas passaram a ser mediados pela internet e pelas plataformas móveis.

Sendo um movimento endossado pela UNESCO, a MIL é definida como uma combinação de conhecimentos, atitudes, habilidades e práticas necessárias para acessar, analisar, avaliar, usar, produzir e comunicar informações e conhecimentos de maneira criativa, legal e ética, de modo a respeitar os direitos humanos. Pessoas com capacidades associadas à MIL podem analisar informações, mensagens, crenças e valores transmitidos através da mídia e de qualquer tipo de produtor de conteúdo, e podem validar informações que encontraram e produziram em relação a uma série de critérios genéricos, pessoais e baseados no contexto (UNESCO, 2012, p. 2).

Nesse aspecto, MIL possibilita que as pessoas se tornem mais conscientes de seu papel como consumidores de mídia e adquiram habilidades para fazer perguntas importantes, como Quem está por trás dessa informação?, Qual é o objetivo dessa mensagem? e Qual evidência sustenta essa afirmação? Essa postura crítica e questionadora é essencial para combater a desinformação e a disseminação da pós-verdade.

Dentre os estudos que buscam delinear aspectos relacionados à MIL, está aquele desenvolvido por Ferrés & Piscitelli (2015), que, ao abordarem o que designam competência em mídia, propõem seis dimensões basilares - linguagem, tecnologia, processos de interação, processos de produção, ideologias e valores, e estética - que abarcam um conjunto de capacidades. Cada dimensão é acompanhada por indicadores que estão relacionados ao envolvimento das pessoas com as mensagens recebidas (âmbito da análise) e à produção de suas próprias mensagens (âmbito da expressão. Ao todo são 55 indicadores, que se caracterizam em competências midiáticas.

Assim sendo, na dimensão da linguagem observa-se quatro habilidades para o âmbito da análise e três habilidades para o âmbito da expressão, que em síntese abordam os meios de comunicação. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Compreensão sobre o papel que as tecnologias da informação e da comunicação desempenham na sociedade e os seus possíveis efeitos; 2) Habilidade para interagir de maneira significativa com meios que permitem expandir as capacidades mentais; 3) Capacidade de manusear as inovações tecnológicas; 4) Capacidade de se desenvolver com eficácia nos ambientes hipermidiáticos, transmidiáticos e multimodais.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Capacidade de se expressar mediante uma ampla gama de sistemas de representação e significados; 2) Capacidade de modificar produtos existentes, dando a eles um novo significado e valor; 3) Capacidade de escolher entre diferentes sistemas de representação e estilos em razão da situação comunicativa, do tipo de conteúdo a ser transmitido e do tipo de interlocutor.

O mesmo quantitativo de habilidades pode ser encontrado na dimensão da tecnologia, sendo quatro habilidades no âmbito da análise e três habilidades no âmbito da expressão. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Capacidade de interpretar e avaliar os diversos códigos de representação e a função que cumprem em uma mensagem; 2) Capacidade de analisar e avaliar as mensagens a partir da perspectiva do significado e do sentido, das estruturas narrativas e das convenções de gênero e de formato; 3) Capacidade de compreender o fluxo de histórias e informações de múltiplas mídias, suportes, plataformas e modos de expressão; 4) Capacidade de estabelecer relações entre textos - intertextualidade -,códigos e mídias, elaborando conhecimentos abertos, sistematizados e inter-relacionados.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Capacidade de manusear com correção ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal; 2) Capacidade de adaptar as ferramentas tecnológicas aos objetivos comunicativos almejados; 4) Capacidade de elaborar e manipular imagens e sons a partir do conhecimento de como se constroem as representações da realidade.

Por outro lado, na dimensão da interação, há oito habilidades de análise e quatro habilidades na dimensão da expressão, que se concentram no conteúdo relacionado à maneira como as pessoas interagem com as mensagens midiáticas. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Capacidade de seleção, revisão e auto avaliação do próprio consumo midiático, de acordo com critérios conscientes e racionais; 2) Capacidade de discernir por que determinados meios, produtos ou conteúdos são apreciados; 3) Conhecimentos básicos sobre o conceito de audiência, estudo de audiência, sua utilidade e seus limites; 4) Capacidade de discernir e gerir as dissociações que por vezes são produzidas entre sensação e opinião, entre emotividade e racionalidade; 5) Conhecimento da importância do contexto nos processos de interação; 6) Capacidade de avaliar os efeitos cognitivos das emoções; 7) Capacidade de apreciar as mensagens provenientes de outras culturas para o diálogo intercultural; 8) Capacidade de gerir o ócio midiático convertendo-o em oportunidade para a aprendizagem.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Atitude ativa na interação com as telas, entendida como oportunidade para construir uma cidadania mais plena para transformar o indivíduo e o seu entorno; 2) Capacidade de interagir com pessoas e coletivos diversos em ambientes cada vez mais plurais e multiculturais; 3) Capacidade de executar um trabalho colaborativo mediante a conectividade e a criação de plataformas que facilitam as redes sociais; 4) Conhecimento das possibilidades legais de reclamação diante do descumprimento das normas vigentes em termos audiovisuais, com atitude responsável em tais situações.

A dimensão de processos de produção e difusão é composta por quatro habilidades no âmbito da análise e sete habilidades no âmbito da expressão, e tratam do conhecimento e das diferenças entre produções individuais e coletivas, populares e corporativas. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Conhecimento das diferenças básicas entre as produções individuais e coletivas, populares e corporativas; 2) Conhecimento dos fatores que convertem as produções corporativas em mensagens submetidas às condições socioeconômicas de toda uma indústria; 3) Conhecimentos básicos sobre os sistemas de produção, as técnicas de programação e os mecanismos de difusão; 4) Conhecimento dos códigos de regulação e de autorregulação que amparam, protegem e exigem dos distintos atores sociais, e dos coletivos e associações que velam pelo seu cumprimento, bem como uma atitude ativa e responsável perante eles.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Conhecimento das fases dos processos de produção e da infraestrutura necessária para produções de caráter pessoal, coletivo ou corporativo; 2) Capacidade de trabalhar de maneira colaborativa na elaboração de produtos multimídia ou multimodais; 3) Capacidade de gerir o conceito de autoria, individual ou coletiva; ter uma atitude responsável diante dos direitos de propriedade intelectual; 4) Capacidade de criar redes de colaboração e retroalimentá-las e ter uma atitude comprometida em relação a elas; 5) Capacidade de selecionar mensagens significativas, apropriar-se delas e transformá-las para produzir novos significados; 6) Capacidade de manejar a própria identidade online/off-line e ter uma atitude responsável diante do controle de dados privados, próprios ou de outros; 7) Capacidade de compartilhar e disseminar informação através dos meios tradicionais e das redes sociais, incrementando a visibilidade das mensagens, em interação com comunidades cada vez mais amplas.

Na dimensão das ideologias e valores, encontramos nove habilidades para análise e três habilidades para expressão; todas direcionadas para entender como as representações midiáticas moldam nossa visão da realidade. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Capacidade de descobrir o modo como as representações midiáticas estruturam nossa percepção da realidade, frequentemente em relação às comunicações inadvertidas; 2) Capacidade de analisar as identidades virtuais individuais e coletivas e de detectar os estereótipos, sobretudo de gênero, raça, etnia, classe social, religião, cultura, deficiência, etc.; 3) Atitude ética na hora de baixar produtos úteis para consulta, documentação ou visualização de entretenimento; 4) Capacidade de analisar criticamente os efeitos da emissão de opinião e de homogeneização cultural que exercem os meios; 5) Capacidade de gerir as próprias emoções na interação com as telas, em função da ideologia e valores que são transmitidos nelas; 6) Capacidade de avaliar a confiabilidade das fontes de informação; 7) Capacidade de detectar as intenções ou interesses subjacentes, tanto nas produções corporativas quanto nas populares; 8) Habilidade de buscar, organizar, contrastar, priorizar e sintetizar informações procedentes de distintos sistemas e diferentes contextos; 9) Capacidade de reconhecer os processos de identificação emocional com os personagens e as situações das histórias como potencial mecanismo de manipulação.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Capacidade de aproveitar as novas ferramentas comunicativas para transmitir valores e contribuir para a melhoria do ambiente em que vivemos; 2) Capacidade de aproveitar as ferramentas do novo ambiente comunicativo para se comprometer como cidadão ou cidadã de modo responsável na cultura e na sociedade; 3) Capacidade de elaborar produtos e modificar os existentes para questionar valores ou estereótipos presentes em determinadas produções midiáticas.

Por último, há a dimensão da estética com quatro habilidades de análise e duas de expressão, que exploram a apreciação dos elementos visuais e formais da comunicação. São as habilidades no âmbito da análise: 1) Capacidade de extrair prazer dos aspectos formais, ou seja, não apenas o que se comunica como também a forma como se comunica; 2) Sensibilidade para reconhecer uma produção midiática que não se adequa às exigências mínimas de qualidade estética; 3) Capacidade de relacionar as produções midiáticas com outras manifestações artísticas, detectando influências mútuas; 4) Capacidade de identificar as categorias estéticas básicas como a inovação formal e temática, a originalidade, o estilo, as escolas e tendências.

São habilidades para o âmbito da expressão: 1) Capacidade de produzir mensagens elementares que sejam compreensíveis e que contribuam para incrementar os níveis pessoais ou coletivos de criatividade, originalidade e sensibilidade; 2) Capacidade de se apropriar e de transformar produções artísticas, potencializando a criatividade, a inovação, a experimentação e a sensibilidade estética.

Com base nos 55 indicadores mencionados, foram desenvolvidas metodologias que visam aprofundar a compreensão e análise dos dados coletados. Na próxima seção é apresentado o detalhamento das abordagens e das técnicas adotadas para a aplicação da metodologia, fornecendo uma visão abrangente do processo de análise e interpretação dos dados.

3. Procedimentos metodológicos

De acordo com os objetivos elencados, esta investigação é caracterizada como descritiva, uma vez que descreve aspectos do contexto informacional contemporâneo expressos na série, além de contemplar dimensões de MIL aplicáveis às situações informacionais elencadas. Quanto à natureza, o trabalho caracteriza-se como básico, de abordagem qualitativa e de cunho bibliográfico e documental.

O caráter bibliográfico da investigação evidencia-se na ocasião em que são utilizadas, para a análise, as dimensões de MIL idealizadas por Ferrés & Piscitelli (2015), além da identificação dos elementos do contexto informacional contemporâneo, levantados a partir dos estudos de Van Dijck, Poell & De Waal (2018); Mintz (2019); Poell, Nieborg & Van Dijck (2019); Ripoll (2019); Cesarino (2022). Enquanto seu caráter documental expressa-se na série fílmica do gênero de ficção científica como elemento de coleta de dados e objeto de investigação.

Os dados bibliográficos e documentais são analisados por via da análise de conteúdo, proposta por Lawrence Bardin (1977). A técnica da análise de conteúdo é composta por três etapas principais, que são: 1) pré-análise, que é composta pela escolha dos documentos, formulação das hipóteses ou objetivos e elaboração dos indicadores (unidades de significação e categorias); 2) exploração do material, que é efetivamente a aplicação dos critérios elencados na pré-análise; 3) o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Nas etapas da pré-análise, em que são definidos os materiais utilizados e a elaboração dos indicadores que fundamentam a interpretação final (a análise de conteúdo propriamente dita), foram definidos os elementos de análise a partir dos objetivos da pesquisa. Os dados bibliográficos, dessa forma, seriam aqueles capazes de responder ao questionamento: quais são os elementos que caracterizam o contexto informacional contemporâneo? Já os dados documentais - oriundos do objeto de análise que é a série fílmica Black Mirror - seriam aqueles cuja resposta fosse positiva para o questionamento: este episódio representa algum dos elementos do contexto informacional contemporâneo?

Emergiram, dos estudos de Van Dijck, Poell & De Waal (2018); Mintz (2019); Poell, Nieborg & Van Dijck (2019); Ripoll (2019); Cesarino (2022), nove elementos do contexto informacional contemporâneo. São eles: dataficação; regulação de dados via algoritmos; mediação da informação via plataformas; pós-verdade: características e efeitos na sociedade; desinformação: estratégias, atores envolvidos e implicações sociais; fake news: estratégias e implicações.

Ainda, da etapa da pré-análise documental, foram selecionados os episódios cujas abordagens vinculam-se ao contexto informacional contemporâneo. Da análise, foram seis episódios selecionados. São eles: The National Anthem (Temporada um); The Waldo Moment (Temporada dois); Hated in the Nation (Temporada três); Arkangel (Temporada quatro); Smithereens (Temporada cinco) e Joan is Awful (Temporada seis). Os dados foram analisados durante o período de junho a julho de 2023.

No anexo são apresentados os detalhes técnicos da série em questão, incluindo informações sobre suas temporadas e episódios. Essa ficha técnica fornece uma visão clara da estrutura da série, facilitando a identificação dos episódios relevantes para a pesquisa. A partir dessa base, foi possível realizar uma seleção criteriosa dos episódios que se alinham com a temática informacional contemporânea.

A partir da observação, foi possível proceder com a categorização dos elementos contemplados na série. Foram identificadas 18 ocorrências originadas dos elementos investigados, as quais deram origem a sete tópicos, a saber: manipulação da verdade e criação de narrativas (4 ocorrências); efeitos da desinformação (três ocorrências); mídias enquanto meios desinformativos (2 ocorrências); desinformação nas redes sociais digitais (2 ocorrências); pós-verdade como estratégia (2 ocorrências); consequências sociais do uso da tecnologia (4 ocorrências); vigilância digital (1 ocorrência).

Posteriormente, os tópicos foram relacionados às dimensões de MIL idealizadas por Ferrés & Piscitelli (2015), indicando os elementos de MIL aplicáveis às situações informacionais vivenciadas por pessoas no contexto atual que podem ser transformadas por meio do desenvolvimento de MIL, promovendo empoderamento, liberdade e cidadania às pessoas.

Na próxima seção, são apresentados os tópicos, as ocorrências e as dimensões de MIL identificadas para mitigar as situações informacionais elencadas.

4. Resultados e discussão

Do episódio The National Anthem, emergem, da análise, os tópicos: 1) manipulação da verdade e criação de narrativas; 2) efeitos da desinformação; 3) Mídias enquanto meios desinformativos e 4) desinformação nas redes sociais digitais. As abordagens, bem como a relação com as temáticas investigadas estão mostradas no Quadro 1.

Quadro 1
Abordagens da pós-verdade e desinformação em The National Anthem
Abordagens da pós-verdade e desinformação em The National Anthem
Fonte: dados da pesquisa.

The National Anthem oferece uma análise perturbadora e crítica do papel da mídia, das redes sociais digitais e da disseminação de informações em nossa sociedade moderna. O episódio alerta para os perigos da pós-verdade e da desinformação, destacando a importância de uma abordagem crítica ao consumir informações e de considerar as consequências das narrativas falsas e manipuladas que podem afetar a sociedade como um todo. Dos tópicos que emergem nesse episódio, dentre as competências midiáticas de Ferrés & Piscitelli (2015) que poderiam ser utilizadas pelos cidadãos, destacam-se a dimensão da linguagem e da tecnologia.

Neste episódio, a dimensão da linguagem no âmbito da análise, especialmente, a capacidade de compreender o fluxo de histórias e informações de múltiplas mídias, suportes, plataformas e modos de expressão seria necessário para que os cidadãos britânicos não caíssem em desinformações num contexto de infodemia vivenciada sobre o assunto do sequestro da princesa. Nesse cenário, a capacidade de discernir fontes confiáveis, verificar fatos e compreender diferentes modos de expressão, como palavras, imagens e símbolos, torna-se essencial para evitar acreditar em desinformações e interpretações distorcidas dos eventos.

Além disso, no âmbito da expressão, principalmente a habilidade de expressar mediante uma ampla gama de sistemas de representação e significados é crucial para transmitir mensagens de maneira eficaz e impactante, uma vez que o episódio ilustra como a mídia, tanto a tradicional quanto as redes sociais digitais, desempenham um papel fundamental na construção de narrativas e na disseminação de informações ao público.

Por sua vez, na dimensão da tecnologia, no que diz respeito ao âmbito da análise a capacidade de se desenvolver com eficácia nos ambientes hipermidiáticos, transmidiáticos e multimodais torna-se uma habilidade oportuna num contexto em que a tecnologia desempenha um papel central na forma como nos comunicamos e acessamos informações, já que o episódio explora como a tecnologia e a mídia podem moldar a percepção pública. Além disso, no âmbito da expressão a capacidade de lidar adequadamente com ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal é relevante para a sociedade representada em The National Anthem.

Em The Waldo Moment, aspectos relacionados à pós-verdade, mídias e desinformação são abordados, conforme descrito no Quadro 2.

Quadro 2
Abordagens da pós-verdade e desinformação em The Waldo Moment
Abordagens da pós-verdade e desinformação em The Waldo Moment
Fonte: dados da pesquisa.

Embora The Waldo Moment seja um episódio ficcional, ele aborda questões muito pertinentes e atuais relacionadas ao papel da pós-verdade e desinformação na política e na sociedade. O episódio é uma crítica contundente sobre a sociedade contemporânea, expondo os perigos da pós-verdade e desinformação e suas implicações na política e na cultura de mídia. Por meio das competências midiáticas sugeridas por Ferrés & Piscitelli (2015), é possível observar as dimensões dos processos de interação e das ideologias e valores abordados no episódio que poderiam ser usados para combater a desinformação e a pós-verdade.

Na dimensão dos processos de interação, no âmbito da análise, a capacidade de discernir e gerir as dissociações que por vezes são produzidas entre sensação e opinião, entre emotividade e racionalidade se torna fundamental, já que Waldo desperta sensações de entretenimento, humor e carisma, cativando o público com sua personalidade irreverente. Nesse sentido, a capacidade de distinguir a sensação momentânea que o personagem proporciona e as opiniões políticas ou valores reais que ele representa pode indicar uma estratégia de MIL.

No âmbito da expressão, usando a atitude ativa na interação com as telas, entendida como oportunidade para construir uma cidadania mais plena, um desenvolvimento integral, para transformar o indivíduo e o seu entorno, os cidadãos presentes no episódio identificaram o poder e a influência da mídia em suas vidas, permitido que se questionassem como a exposição constante a conteúdos midiáticos, incluindo como Waldo, pode afetar suas percepções, emoções e comportamentos.

Já na dimensão das ideologias e valores, essencialmente no âmbito da análise, a capacidade de descobrir o modo como as representações midiáticas estruturam nossa percepção da realidade é uma habilidade de MIL esperada, uma vez que o uso da manipulação emocional de Waldo como personagem político fictício levou os espectadores a sentirem-se atraídos por suas mensagens simplistas e apelos emocionais, mesmo que eles não reflitam suas próprias crenças ou valores. Nesse aspecto o gerenciamento dessas emoções diante dessa influência ideológica é essencial para manter uma perspectiva crítica e não se deixar levar por discursos vazios.

Já no âmbito da expressão, nesse aspecto MIL inclui a capacidade de aproveitar as novas ferramentas comunicativas para transmitir valores e contribuir para a melhoria do ambiente em que vivemos, como uma atitude de compromisso social e cultural, uma vez que o episódio retrata que, no contexto da pós-verdade e manipulação midiática, a atitude de compromisso social e cultural envolve buscar a verdade e praticar a empatia. Isso significa pesquisar e verificar informações antes de compartilhá-las, bem como colocar-se no lugar do outro, entendendo perspectivas diferentes e respeitando a diversidade de opiniões.

Em Hated in the Nation emergem tópicos com um enfoque especial na influência das redes sociais digitais e das mídias digitais na disseminação de informações, conforme apresentado no Quadro 3.

Quadro 3
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Hated in the Nation
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Hated in the Nation
Fonte: dados da pesquisa.

Em resumo, Hated in the Nation destaca os perigos da manipulação das informações nas redes sociais digitais e o impacto negativo para a sociedade. A partir de Ferrés & Piscitelli (2015) é possível inferir elementos de MIL que as pessoas poderiam ter em relação aos assuntos abordados, principalmente, no parâmetro da tecnologia e processos de produção e difusão.

Na dimensão da tecnologia, essencialmente no âmbito da análise, emerge a habilidade para interagir de maneira significativa com meios que permitem expandir as capacidades mentais. Isso possibilitaria que os personagens interagissem com os avanços tecnológicos e desafios éticos que enfrentam. O pensamento crítico, a criatividade, a colaboração e a solução de problemas são componentes essenciais para uma interação significativa e responsável com as tecnologias avançadas retratadas no episódio.

Já no âmbito da expressão, emerge a capacidade de manusear com correção ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal, uma vez que a história destaca como o uso responsável e ético das ferramentas tecnológicas é fundamental para evitar consequências negativas e explorar seu potencial para o bem-estar coletivo. Além disso, a colaboração entre a tecnologia e as habilidades humanas é um componente essencial para enfrentar os dilemas complexos e multifacetados que a tecnologia pode apresentar.

Na dimensão dos processos de produção e difusão, emerge no âmbito da análise o conhecimento das diferenças básicas entre as produções individuais e coletivas, populares e corporativas, em virtude do episódio explorar como as produções coletivas podem ter impactos significativos e como a titularidade privada de tecnologias pode ter implicações éticas e sociais importantes. Através desse enredo, levanta questões sobre a responsabilidade individual e coletiva em relação ao uso da tecnologia e ao compartilhamento de conteúdo nas mídias sociais, destacando como esses aspectos podem moldar a percepção da realidade e ter consequências reais na vida das pessoas.

No âmbito da expressão, usufruir da capacidade de manejar a própria identidade online/off-line e ter uma atitude responsável diante do controle de dados privados, próprios ou de outros é um ponto crucial, dado que o episódio lembra da necessidade de agir com responsabilidade e ética no ambiente digital para evitar consequências devastadoras. Além disso, também destaca a importância de proteger nossos dados pessoais e adotar uma postura consciente em relação ao uso da tecnologia para garantir a segurança e o bem-estar tanto individual quanto coletivos.

Já em Arkangel, as temáticas pós-verdade e desinformação não são as principais abordagens, mas há elementos relacionados aos temas que estão descritos no Quadro 4.

Quadro 4
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Arkangel
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Arkangel
Fonte: dados da pesquisa.

Em síntese, a história destaca como o controle da narrativa e a manipulação de informações podem afetar a percepção da realidade e moldar a compreensão de uma pessoa sobre o mundo. Dessa forma, o episódio traz reflexões sobre a importância da exposição a diferentes perspectivas e da busca por uma compreensão mais completa e imparcial das informações recebidas. Diante disso, podemos constatar o uso das dimensões da tecnologia e da ideologia e valores.

Na dimensão da tecnologia, no âmbito da análise, emerge a compreensão sobre o papel que a tecnologia da informação e da comunicação desempenha na sociedade e os seus possíveis efeitos, uma vez que o episódio foca nos possíveis efeitos negativos do uso excessivo e invasivo da tecnologia, especialmente em contextos familiares e educacionais. Além disso, alerta sobre os riscos da dependência tecnológica e da manipulação da realidade, levando a refletir sobre a necessidade de equilíbrio e responsabilidade no uso das tecnologias da informação e comunicação para garantir o bem-estar individual e coletivo.

No âmbito da expressão, a capacidade de adaptar as ferramentas tecnológicas aos objetivos comunicativos almejados é uma habilidade esperada em MIL, pois o episódio traz reflexões sobre os impactos do controle excessivo e da manipulação de informações por meio da tecnologia, enfatizando a necessidade de considerar as implicações e consequências de adaptar as ferramentas tecnológicas as necessidades comunicativas desejadas.

Por outro lado, na dimensão dos ideologia e valores, no âmbito da análise, a capacidade de gerir as próprias emoções na interação com as telas, em função da ideologia e valores que são transmitidos nelas era de suma importância, visto que ele destaca a importância de desenvolver habilidades de autorregulação emocional e de permitir que as pessoas enfrentam e lidem com suas emoções de forma saudável e realista. Além disso, destaca também como a ideologia e os valores podem influenciar a forma como utilizamos a tecnologia em nossas vidas e como é essencial considerar cuidadosamente o impacto emocional de nossas escolhas tecnológicas.

Já no âmbito da expressão, a capacidade de aproveitar as novas ferramentas comunicativas para transmitir valores e contribuir para a melhoria do ambiente em que vivemos, como uma atitude de compromisso social e cultural é oportuna como uma estratégia de MIL nesse contexto. O episódio ressalta que o uso responsável da tecnologia é fundamental para garantir que nossas interações com ela sejam positivas e construtivas, contribuindo para a melhoria do ambiente social e cultural em vez de criar distorções e manipulações que possam ter efeitos negativos. Além disso, o episódio alerta sobre os perigos de uma abordagem excessivamente controladora e invasiva, ressaltando a importância de permitir o desenvolvimento pessoal e emocional de cada indivíduo em um ambiente que seja enriquecedor e saudável.

Em Smithereens as temáticas de pós-verdade e desinformação não são os principais focos da trama, mas ainda são abordadas de forma indireta, como demonstrado no Quadro 5.

Quadro 5
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Smithereens
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Smithereens
Fonte: dados da pesquisa.

O episódio levanta questões importantes sobre a responsabilidade das empresas de tecnologia em relação à manipulação de informações e destaca a necessidade de um uso consciente e ético das plataformas de mídia. Considerando as dimensões das competências midiáticas, podemos observar o papel da dimensão da tecnologia e dos processos de interação.

No que diz respeito à dimensão da tecnologia, no âmbito da análise, MIL envolve a compreensão sobre o papel que a tecnologia da informação e da comunicação desempenha na sociedade e os seus possíveis efeitos, uma vez que o episódio aborda questões sobre a dependência excessiva das redes sociais digitais, a manipulação da verdade através das plataformas de mídia e a desconexão emocional que pode surgir das interações online.

Já no âmbito da expressão, a capacidade de manusear com correção ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal se demonstra uma habilidade em MIl esperada, ao modo de como as tecnologias proporcionam uma grande quantidade de informação e facilidades de comunicação, pois, importante utilizá-las com prudência e respeito pelas leis e normas de segurança. O episódio chama a atenção para a importância de equilibrar a conveniência dessas ferramentas com a segurança e o bem-estar de todos os envolvidos.

Já na dimensão dos processos de interação, no âmbito da análise, a capacidade de seleção, revisão e autoavaliação do próprio consumo midiático, de acordo com critérios conscientes e racionais, recorda a importância de sermos conscientes e racionais em relação ao nosso consumo de mídia, reconhecendo a influência das redes sociais digitais e outras plataformas na nossa vida e tomando decisões informadas sobre como utilizá-las. Além disso, o episódio destaca a necessidade de equilibrar o tempo gasto nas redes com uma conexão significativa com a realidade e com nossas emoções, evitando a dependência excessiva e a desconexão da vida real.

No âmbito da expressão, a capacidade de executar um trabalho colaborativo mediante a conectividade e a criação de plataformas que facilitam as redes sociais digitais torna-se uma habilidade importante, ao modo que o episódio destaca os perigos do uso excessivo das redes sociais digitais e como a dependência dessas plataformas pode levar a consequências negativas. Portanto, ao executar um trabalho colaborativo por meio da conectividade e das redes sociais digitais, é fundamental manter uma abordagem consciente e equilibrada, garantindo que o uso dessas tecnologias contribua para a produtividade e o crescimento positivo do grupo ou equipe envolvida.

O episódio Joan is Awful também não aborda diretamente a temática da pós-verdade e desinformação, mas faz emergir pontos de relação com o contexto informacional contemporâneo, que estão elencados no Quadro 6.

Quadro 6
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Joan is Awful
Abordagens da pós-verdade e desinformação em Joan is Awful
Fonte: dados da pesquisa.

Ao explorar essa temática, o episódio reflete sobre a realidade atual do capitalismo de vigilância, em que muitos usuários aceitam os termos de condições dos contratos sem ler completamente ou sem considerar as implicações de entregar dados pessoais para grandes empresas de tecnologia. Neste sentido, considerando as dimensões das competências midiáticas, podemos destacar a tecnologia e a ideologia e valores.

Na dimensão da tecnologia, no âmbito da análise, o uso da compreensão sobre o papel que as tecnologias da informação e da comunicação desempenham na sociedade e os seus possíveis efeitos seria útil para identificar a maneira como organizações se apropriam de vivências e interações com a internet para vigilância, visto que os termos e condições dos aplicativos muitas das vezes são aceitos sem sequer um juízo crítico.

Por outro lado, no âmbito da expressão a capacidade de manusear com correção ferramentas em um ambiente multimidiático e multimodal é uma estratégia de MIl aplicável ao campo pessoal e profissional, permitindo que as pessoas se comuniquem com eficácia, compartilhem conhecimento, expressem ideias de maneira criativa e colaborem com outros num mundo digital e interconectado. Essa habilidade é fundamental para que possamos aproveitar ao máximo as oportunidades oferecidas pela tecnologia da informação e da comunicação na atualidade.

Por último, na dimensão da ideologia e valores, especificamente no âmbito da análise, a capacidade de detectar as intenções ou interesses subjacentes, tanto nas produções corporativas quanto nas populares, assim como sua ideologia e valores, é uma estratégia de MIL útil para desenvolver uma compreensão mais profunda dos discursos e mensagens veiculadas na mídia, permitindo tomar decisões e formar opiniões de maneira consciente. Na adoção de atitudes críticas em relação à mídia que consumimos podemos nos tornar cidadãos mais conscientes e bem informados, contribuindo de forma mais ativa para uma sociedade. Por sua vez, no âmbito da expressão a capacidade de elaborar produtos e modificar os existentes para questionar valores ou estereótipos presentes em determinadas produções midiáticas ajudaria ao questionamento de valores e estereótipos, considerando o impacto do conteúdo produzido para que ele não promova discurso de ódio, violência ou preconceitos.

Considerações finais

MIL desempenha um papel fundamental na ciência da informação, especialmente no contexto atual de abundância de dados e informações disseminadas por diversos meios de comunicação. A série Black Mirror é um oportuno objeto para explorar e estudar questões complexas relacionadas à desinformação e à pós-verdade na sociedade contemporânea. Ao analisar a série, observa-se como a desinformação e a manipulação de informações são temas recorrentes, ilustrando a capacidade da mídia e das tecnologias de influenciar a forma que percebemos o mundo.

A investigação também possibilitou aprimorar a compreensão sobre o modo que as tecnologias de informação e comunicação podem moldar nossa percepção da realidade, influenciar nossas emoções, opiniões e comportamentos. A série Black Mirror também revela como as informações falsas e distorcidas podem ser usadas para manipular a opinião pública, comprometer a democracia e a privacidade individual. Além disso, a série demonstra a importância de uma atitude responsável em relação ao nosso consumo midiático. Devemos ser conscientes dos possíveis efeitos da desinformação na sociedade, assim como da nossa responsabilidade em compartilhar informações verificadas e confiáveis.

Portanto, as habilidades em MIL são cada vez mais importantes para os indivíduos da América Latina e do Caribe na era contemporânea. Com essas habilidades as pessoas podem navegar de forma eficaz em um ambiente cheio de informações e analisar criticamente as histórias e mensagens que a mídia transmite. Ao aprender essas habilidades, as pessoas estão mais preparadas para identificar a desinformação, compreender os vieses ideológicos e avaliar a credibilidade das fontes. Além de aumentar a capacidade de resistir à manipulação da informação, isso também incentiva os cidadãos a participar com mais conhecimento e engajamento, contribuindo para o desenvolvimento de sociedades mais inclusivas e democráticas em toda a região.

Rol de autoria

Rodrigo da Silva Almeida

Administração do projeto; análise formal; conceitualização; pesquisa; metodologia; redação: rascunho original; visualização.

Eddie Carlos Saraiva da Silva

Administração do projeto; análise formal; conceitualização; pesquisa; metodologia; redação: rascunho original; visualização.

Djuli Machado de Lucca

Análise formal, conceitualização, curadoria de dados, escrita: revisão e edição; pesquisa; metodologia; redação: rascunho original; visualização.

Danielly Oliveira Inomata

Redação, revisão e edição; visualização.

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Anexo: Ficha técnica


Recepción: 02 Mayo 2024

Aprobación: 09 Julio 2024

Publicación: 01 Abril 2025



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